Por que motivo as crianças, de modo geral, são poetas
e, com o tempo, deixam de sê-lo?
Será a poesia um estado de infância relacionada com a
necessidade de jogo, a ausência de conhecimento livresco, a despreocupação com
os mandamentos práticos de viver – estado de pureza da mente, em suma?
Acho que é um pouco de tudo isso, se ela encontra
expressão cândida na meninice, pode expandir-se pelo tempo afora, conciliada
com a experiência, o senso crítico, a consciência estética dos que compõem ou
absorvem poesia.
Mas, se o adulto, na maioria dos casos, perde essa
comunhão com a poesia, não estará na escola, mais do que em qualquer outra
instituição social, o elemento corrosivo do instinto poético da infância, que
vai fenecendo, à proporção que o estudo Sistemático se desenvolve, ate
desaparecer no homem feito e preparado supostamente para a vida?
Receio que sim.
A escola enche o menino de matemática, de geografia,
de linguagem, sem, via de Regra, fazê-lo através da poesia da matemática, da
geografia, da linguagem.
A escola não repara em seu ser poético, não o atende em sua capacidade de viver
poeticamente o conhecimento e o mundo.
Sei que se consome poesia nas salas de aula, que se
decoram versos e se estimulam pequenas declamadoras, mas será isso cultivar o
núcleo poético da pessoa humana?
Oh, afastem, por favor, a suspeita de que estou
acalentando a intenção criminosa de formar milhões de poetinhas nos bancos da
escola maternal e do curso primário.
Não pretendo nada disto, e acho mesmo que o uso da escrita poética na idade
adulta costuma degenerar em abuso que nada tem a ver com a poesia.
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O que eu pediria à escola, se não me faltassem luzes
pedagógicas, era considerar a poesia como primeira visão direta das coisas e,
depois, como veículo de informação
prática e teórica, preservando em cada aluno o fundo mágico, lúdico, intuitivo
e criativo, que se identifica basicamente com a sensibilidade poética...
(Carlos Drummond de Andrade)